Neste post, exponho as quatro fases do desenvolvimento infantil como descritos por Jean Piaget, uma das principais referências existentes nesta área. É um assunto pertinente tanto para educadores profissionais como os domésticos. Pais e mães poderão ter uma melhor compreensão, para evitar exigir o que ainda não cabe às crianças, assim como avaliar com maior precisão o desenvolvimento cognitivo e intelectual de seus filhos. Piaget demonstrou de forma clara as fases do desenvolvimento. Neste post, trago uma síntese destas quatro fases para que você melhor entenda seu filho.
0 a 2 anos: Estágio Sensório-Motor
Este período (0 a 2 anos) é onde as mudanças são mais rápidas. Do primeiro para o segundo mês já existem transformações notáveis, como a capacidade de chupar o dedo. Por mais simples que pareça, esta é uma coordenação relativamente complexa, onde a criança passa a experimentar o controle de seu corpo.
O bebê, ao nascer, apresenta apenas comportamentos reflexos. O “pensamento” propriamente dito chegará por volta dos dois anos de idade, quando iniciará o processo da fala. Já dominará grande parte dos desafios sensório-motores, como ao alcançar objetos com o auxílio de um outro objeto, por exemplo.
Outro ponto importante neste estágio é o desenvolvimento do afeto. Ao longo destes dois primeiros anos o bebê aprenderá a usar o seu afeto na tomada de decisões, como ao chorar para pedir ajuda, por exemplo. Mas inicialmente não há “sentimentos” verdadeiros. O bebê recém nascido se expressa por reflexos.
2 a 7 anos: Estágio Pré-operacional
Esta fase é também repleta de transformações, em especial na capacidade de representar e compreender alguns conceitos. É a fase onde ocorre a maior aquisição de habilidades motoras, comportamentais e sociais.
No estágio pré-operacional o desenho se mostra presente, onde a criança exercita sua capacidade e curiosidade pela representação dos objetos e do mundo. Internamente esta criança também apresenta um desenvolvimento de sua capacidade simbólica, ou seja, de fazer representações mentais, ainda que um tanto imprecisas e rudimentares.
A linguagem falada também abre caminhos inéditos para esta criança. Agora o seu pensamento já não depende exclusivamente da ação. Ela é capaz de gerar imagens mentais onde a representação do mundo concreto é o principal protagonista.
Junto com este desenvolvimento da fala, vem uma crescente habilidade social, e vice versa. Um dos principais lemas na Teoria de Piaget, é de que a linguagem é aprendida e não hereditária. E o autor defende que a motivação para se aprender a fala vem principalmente pelo seu valor adaptativo. Neste sentido o progresso mais rápido ocorre entre os 2 e os 4 anos.
O desenvolvimento afetivo nesta fase, é inseparável do desenvolvimento cognitivo. Tendo isso em vista, da mesma forma que o aprendizado social da linguagem, a presença dos pais é fundamental, pois toda aquisição de novos conhecimentos da criança de 0 a 7 anos será determinada diretamente pela qualidade afetiva encontrada no seio da língua materna, ou em outras palavras, em casa.
Esta relativa indiferenciação entre afeto e conhecimento cognitivo, mostra porque o raciocínio lógico ainda não está plenamente desenvolvido.
Um dos exemplos disso é a capacidade de entender a reversibilidade. Segundo Piaget, a reversibilidade é a característica que melhor define a inteligência. Exemplo de pensamento sem pensamento reversível:
“Por exemplo, uma criança sem pensamento reversível diante de duas fileiras de igual comprimento, contendo oito moedas cada, concorda que as duas têm o mesmo número de moedas. Uma das fileiras é alongada na presença da criança e ela não mais concorda que as duas tenham o mesmo número de moedas. Parte do problema é que ela não é capaz de mentalmente reverter a ato de estender a fileira de moedas”.
Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de Piaget (Barry Wadsworth)
7 a 11 anos: Estágio das operações concretas
Dos 7 aos 11 anos, as operações concretas são conquistadas através do amadurecimento do pensamento lógico.
Da mesma forma, a criança nesta fase já é capaz de fazer diferenciações entre o “eu” e o “outro” com maior desenvoltura. Isso também se reflete em um comportamento menos egocêntrico. O que isso significa é que a criança agora, será capaz de compreender que existem outros pontos de vista para uma mesma situação, e aprenderá com isso a se questionar. Esta é, além de uma habilidade do pensamento racional, uma habilidade de socialização.
Portanto, a principal barreira que distingue o estágio das operações concretas, em contraste com o estágio anterior, pré-operacional, é a aquisição da capacidade de usar a lógica:
- A criança é capaz de acompanhar processos de transformação, como ao ver um gelo derretendo, e compreender que parte do que antes era gelo, agora é água líquida.
- Realização de operações inversas. Ao cantar a escala de dó (DÓ, RÉ, MI, FÁ, SOL, LÁ SI, DÓ), por exemplo, será capaz de descobrir a ordem inversa das notas (DÓ, SI, LÁ, SOL, FÁ, MI, RÉ, DÓ).
- Capacidade de reconhecer pontos de vista diversos. Daí também surge a capacidade de cooperar voluntariamente, o que constitui uma habilidade afetiva. Significa adquirir autonomia e capacidade de ter respeito mútuo.
A partir dos 11 anos: Estágio das Operações Formais
Essencialmente, este estágio não difere muito do anterior, no que diz respeito à utilização do pensamento lógico.
A diferença está na abrangência deste pensamento. No estágio anterior, até os 7 anos, a criança era capaz de enxergar esta lógica apenas em problemas concretos e presentes. A capacidade de lidar com problemas verbais, hipotéticos ou futuros, somente será adquirida no período das operações formais.
Analogias e abstrações serão possíveis nesta fase. Estes atributos do raciocínio tornarão possível uma abordagem científica na construção dos conhecimentos.
Entenda seu filho
O objetivo principal que me levou a escrever este artigo foi de prover pais e mães com repertório para melhor compreenderem e aceitar a fase de desenvolvimento em que se encontram seus filhos. Deixe suas dúvidas, terei o maior prazer em te auxiliar.